//Restaurantes: “Precisamos de ajuda”

Restaurantes: “Precisamos de ajuda”

Vamos ter nos próximos tempos uma oferta para muitos, com a procura de poucos.

Sobretudo através da comunicação online, os proprietários dos restaurantes lançaram um apelo no qual pedem isenção da Taxa Social Única até dezembro e descida do IVA até ao final de 2021.

A ‘voz’ para o arranque desta iniciativa foi de Ljubomir Stanisic, o rosto conhecido dos portugueses através do programa ‘Pesadelo na Cozinha’ emitido na TVI e Chefe e proprietário do premiado 100 Maneiras. A ele se juntaram já chefes de cozinha mediáticos, também proprietários de restaurantes como, para além do já citado, José Avillez, Alexandre Silva, Leonel Pereira e José Júlio Vintém entre outros.

Claro que imediatamente surgiram reações e, como de costume, algumas disparatadas. Entre elas, a critica de que eram os ‘conhecidos’ chefes da cozinha moderna e das ‘estrelas’ que estavam a promover esta campanha. Precisamente por serem os mais conhecidos é que faz sentido que sejam eles, pois a maioria dos que mandam e opinam nos meios de comunicação social, necessária para fazer eco do assunto e também dos que decidem politicamente, eram certamente clientes dos seus restaurantes e até, nalguns casos, muitos deles, amigos.

Se conseguirem o objetivo – que efetivamente o setor precisa e merece – os apoios não serão apenas para este ou aquele tipo de cozinha. Por muito que se ‘desconfie’ das decisões políticas, neste caso, os eventuais apoios a conceder serão, obviamente para o setor e não para ‘tipos’ de restaurantes para os quais se pede a isenção da Taxa Social Única (TSU) até dezembro e a descida do IVA, nos serviços de alimentação e bebidas, de 13% para 6% até ao final de 2021.

Nesta ‘campanha’ com impacto nas redes sociais, os promotores lembram que “somos 240.000 pessoas a viver da restauração em Portugal” e acrescentam: “queremos voltar a receber. Pessoas, direitos e deveres. Dar e receber. Está na hora de receber. Porque nós daremos tudo a qualquer hora! Por favor” pode ainda ler-se no post publicado nas redes sociais.

Também a AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal tem vindo a exigir mais apoios do Estado com o objetivo de atenuar o “forte impacto económico” que a pandemia vai continuar a provocar nas empresas de restauração e bebidas. Uma das principais medidas, considerada muito relevante será a aplicação temporária da taxa reduzida de IVA nos serviços de alimentação e bebidas, a exemplo da orientação que outros países da Europa procuram seguir” defende esta associação.

Este é um período difícil para praticamente todos os setores da nossa economia e não apenas para os restaurantes, mas estes não podem ser entendidos apenas como locais onde se vende comida e bebida. Os restaurantes, sejam de cozinha moderna, tradicional, fast-food ou mesmo coletiva, para venderem também precisam de comprar e por isso, ao impacto social e económico direto na restauração e afins, há que juntar a  atividade dos seus fornecedores, nomeadamente os de produtos agrícolas, os pescadores, os vitivinicultores, etc. etc.

É previsível que um número significativo de restaurantes já nem reabra, o que para alguns será o melhor face à situação em que se encontravam antes desta crise. Há que reconhecer que mesmo com o turismo em alta como se verificava até início de março, havia já vozes que alertavam para o crescente número de unidades que ‘nasciam’ um pouco por todo o lado, muitas delas mais como locais de ‘vender comida’ do que restaurantes.

Vamos ter nos próximos tempos uma oferta para muitos, com a procura de poucos e esta situação pode levar a atitudes como a baixa de preços para atrair clientes. Um comportamento com maus resultados mas que continua a ser para muitos empresários aquilo que julgam ser a ‘tábua de salvação’ mas que acaba sempre por ser mais uma tábua para o «caixão do negócio».

Será preciso ser resiliente e criativo para ‘disputar’ os clientes, mas também e principalmente aplicar o melhor de cada um nas opções de gestão. Por muito que custe, já não se trata apenas de ajuda, mas também de competência dos empresários e gestores.

E já agora, também do ‘comportamento’ dos clientes.

Amilcar Malhó

NotaSei do que escrevo, não apenas porque profissionalmente falo, aprendo e apreendo com eles, mas também e principalmente porque fui, durante quatro anos, empresário de restauração. Faltou-me em conhecimentos de gestão o que tinha de entusiasmo e o resultado só podia ser… mau.