Não. Não se trata de mais um produto para venda nas populares lojas de pechinchas. Antes pelo contrário, pois alcançam preços elevados e apresentam referências ‘inspiradas’ em França, com a designação Château.
Acredito que seja uma surpresa para a grande maioria dos enófilos e para o público em geral, mas aquele país da Ásia Oriental já nos habituou a surpresas, umas mais e outras menos agradáveis.
Agora, de acordo com a notícia da revista ‘Grande Consumo’ a parceria estabelecida com a Martins Wine Advisor vai disponibilizar aos consumidores portugueses alguns dos vinhos chineses mais procurados no mundo, com alguns a atingirem já valores consideráveis. O vinho ‘ícone’ lançado na Europa, o Purple Air Comes from the East 2016, um Cabernet Sauvignon, custa cerca de 180 euros a garrafa e integra a lista dos 10 rótulos disponíveis ao consumidor na vinha.pt e na distribuição da Martins Wine Advisor.
O Château Moser XV Blanc de Noir 2018 é apresentado como o primeiro Blanc de Noir Cabernet Sauvignon do mundo, envelhecido em barricas francesas, sendo evidentes as ‘aproximações’ a França da Changyu, fundada em 1892 e referida como a primeira empresa vinícola chinesa a produzir vinho em grande escala.
A surpresa continua com a informação publicada a revelar que “as melhores colheitas da China nascem junto ao deserto de Gobi, em Ningxia, terra difícil de dominar para o cultivo de vinho”. Apesar da dificuldade assumida em cultivar vinhas e colher as uvas que resultam em vinho, afirma-se que “Ningxia despontou como uma região produtora de vinhos graças ao clima desértico”.
A constatação de que “a latitude é a mesma de Bordéus”, poderá ajudar a compreender o rótulo Château, do Cabernet Sauvignon.
Talvez menos surpreendente, face à conhecida expansão mundial chinesa em variadíssimas áreas económicas é a informação de que tudo isto acontece graças aos estímulos do governo chinês.
Não me parece que venhamos a encontrar brevemente secções de garrafeira por entre os milhares de artigos baratinhos das lojas chinesas. Mas tendo em conta o histórico de investimentos daquele país em todo o mundo, não me surpreenderia que a produção de vinhos junto ao deserto de Gobi faça parte de uma experiência para aproveitar a desertificação prevista para a Europa, em especial em França.
É que, dominando a técnica de produzir em zonas desérticas, deixa de ser necessário inventar castelos e começam a comprar os verdadeiros Châteaux.
Bem, tenho que confessar que estou a tentar ser irónico. Mas pensando bem…
Amilcar Malhó
Foto de Ningxia: wildchina
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