//Vinho: quanto mais caro melhor?

Vinho: quanto mais caro melhor?

Para Vasco d’Avillez , “este conceito está completamente errado” e Mário Louro afirma que “a lei da oferta e da procura faz a diferença”.

(Ver * no final do texto)

Apesar do crescimento do interesse e de existir cada vez mais informação sobre vinho, da realização de cursos, provas comentadas e a publicação de milhares de artigos técnicos, ainda há quem, por exemplo, compre um vinho para oferecer com base no preço. Quanto mais se «valoriza» o recetor do presente, mais caro se pensa que deve ser o vinho.
E não é apenas «de filme» a cena do indivíduo pouco conhecedor que, na mesa ou mesmo na garrafeira, escolhe um vinho caro na esperança de que essa seja uma forma de garantir a qualidade.

Eis um exemplo, que é ao mesmo tempo uma interessante curiosidade, sobre este tema:
Em 1989 foi leiloada uma garrafa de Château Margaux colheita de 1787que terá pertencido a Thomas Jefferson, terceiro presidente dos Estados Unidos.
O valor chegou aos 500 mil dólares, pagos por William Sokolin que, mais tarde, o ofereceu num jantar no Four Season Hotel. Mas, antes de servi-lo, o empregado deixou cair a garrafa, que se partiu. Por sorte, o vinho tinha seguro e Sokolin recebeu 225 mil dólares de indemnização.

Neste caso, a história da garrafa, o ano de colheita e o facto de se tratar de um vinho considerado um dos melhores do mundo, foram fatores que muito contribuíram para o valor alcançado. Mas no mundo dos comuns consumidores, a realidade é outra, o que nos levou a pedir a colaboração de quem conhece o mercado dos vinhos em Portugal.

Vasco d’Avillez, ex-presidente da Comissão Vitivinícola de Lisboa e ex-presidente da Viniportugal, entre muitas outras funções que desempenhou ao longo de mais de 40 anos ligado ao mundo dos vinhos:

O vinho, quanto mais caro melhor?
Não. Este conceito está completamente errado! Bom ou melhor ou muito bom é aquilo de que o Cliente gosta! Ora se esta for a base então temos inúmeros vinhos cujo preço, abaixo de cinco euros na venda ao Público (Chama-se PVP) é esclarecedor de que está ao alcance de todas as bolsas, e pode ser que agrade ao consumidor muito mais do que um outro de 50 euros.

Quais são os principais fatores para um vinho alcançar preços altos?
O primeiro fator é sem dúvida o Marketing!; O segundo fator é sem dúvida o Marketing!
O terceiro fator é sem dúvida o Marketing!

Oferecer um vinho deve ter em conta o valor monetário da oferta?
Não! Deve ter em conta o gosto de quem o recebe e o nosso gosto em oferecer!

Em sua opinião, o que é um vinho caro?
Para mim e para muitos portugueses que vivam aqui e tenham um salário médio, um vinho caro é aquele que custa mais de 10 Euros. Muito caro custará mais de 15 euros e a partir de 20 não o posso oferecer a ninguém…nem é preciso, para que o que o recebe goste muito!

Mário Louro, um dos mais respeitados formadores portugueses na área dos vinhos, foi, entre muitos outros cargos, presidente do Concurso Nacional de Vinhos Engarrafados:

Vinho quanto mais caro, melhor?
Nem sempre o melhor vinho é o mais caro. As variáveis são muitas e algumas vezes os preços estão associados à fama das marcas.
Num conjunto de vinhos, um conjunto de pessoas poderá afirmar que naquele grupo , o melhor está no conjunto ,por comparação, ou porque já avaliaram muitas vezes aqueles vinhos. Não é de excluir, nunca, o factor subjectividade como diria o meu Amigo MS João Pires.

Quais são os principais factores para um vinho alcançar preços altos ?
Começamos pela idade da vinha, depois a escolha das variedades, o rendimento das mesmas, o tipo de colheita (manual), a vinificação, o estágio e o tempo de envelhecimento. A origem também manda no preço, mas associado temos a escolha de barrica. Depois, a lei da oferta e da procura faz a diferença .

Oferecer um vinho deve ter em conta, o valor monetário da oferta ?
Para mim o valor está no vinho de que tenho maior estima familiar ou eventualmente envolve uma história que marca a garrafa. Tenho na minha posse uma garrafa que El-Rei D. Carlos oferecia nas caçadas aos seus convidados, que uma Senhora que me ofereceu. Pois para mim esta garrafa tem um significado muito maior, que o Vinho garrafeira CRF 1933, que já provei muitas vezes .

O que é um vinho caro?
Para mim caro é quando o meu orçamento não permite que o compre todos os dias, ou porque vou mantê-lo na minha garrafeira, à espera da «tal» ocasião. Não é apenas preço. É a origem, é a casta, é o ano, é o «caminho» dessa garrafa e tudo o que a envolve.

*NOTA – Este artigo foi publicado no Jornal dos Sabores em abril de 2016. A sua (re)publicação pretende ser uma chamada de atenção para um assunto que continua a ser atual.