Há quem diga que não gosta, mesmo sem saber porquê. E quem diga que gosta muito, apenas porque ‘fica bem’.
No caso da poesia porque dá uma imagem de intelectualidade, no caso do vinho, de modernidade, porque o vinho está na moda.
No sentido figurado, talvez se possa dizer que poesia é tudo aquilo que comove, que sensibiliza e desperta sentimentos. Quando lemos ou ouvimos um poema, esperamos que nos surpreenda, que nos toque, que fique, no todo ou em parte, na nossa memória.
Quando começamos a entender a beleza de apreciar um vinho, também esperamos um aroma que nos surpreenda, uma cor que nos crie expetativa para um sabor que fique, se mantenha por algum tempo ou mesmo que entre no arquivo das boas memórias.
A poesia em verso é muito mais acessível que a poesia em prosa que é apreciada, normalmente, por quem já leu e apreciou muita literatura deste género e mais facilmente apreende a mensagem e o pensamento do autor.
Também nos vinhos existem aqueles que são mais acessíveis, que simplesmente agradam ou não e outros, que se definem como mais complexos, que exigem uma maior capacidade de perceção dos aromas e requerem toda a atenção das papilas gustativas e do cérebro.
Li, algures, que Fernando Pessoa terá dito: “Ser poeta não é uma ambição minha. É a minha maneira de estar só”. Na verdade, ler poesia pode ser um prazer solitário. O silêncio, normalmente, permite melhor concentração.
Igualmente beber vinho, pode ser um prazer solitário. O silêncio permite melhor concentração, maior capacidade de arrumar ideias e apreciar o que o copo nos oferece. Embora se trate de uma ‘bebida social’ que sabe melhor em grupo e em festa, que até pode terminar com poemas de improviso.
O que é bom vinho? O que é boa poesia?
António Aleixo é bom? Certamente que sim para quem gosta de rimas, de crítica, de alusões à vida real, ao popular. Já para quem gosta do movimento surrealista português, bom é Alexandre O’Neil. Para outros ainda a universalidade de Fernando Pessoa define o que é a boa poesia.
Também no vinho há quem goste mais de uma ou outra região. E em cada região, de uma determinada combinação de castas, da ‘magia’ de um certo enólogo. E quando gostamos, geralmente dizemos que é bom.
Mas o bom também depende das circunstâncias.
Em determinadas alturas da nossa vida há poemas que nos ajudam. Que nos transmitem as palavras certas e generosas para aquele momento. Ou, pelo contrário, que nos aumentam uma revolta, que fazem reacender uma dor.
O nosso estado de espírito determina a forma como «degustamos» uma bebida, ou um poema.
Amílcar Malhó
E já agora, para terminar:
“Um bom vinho é poesia engarrafada”.
Robert Louis Stevenson
“Boa é a vida, mas melhor é o vinho”
Fernando Pessoa