Aproveitamento inteligente da parte menos nobre do peixe.
As principais especialidades gastronómicas da Figueira da Foz (do Mondego), cidade ribeirinha e marítima, residem essencialmente no peixe, fruto do rio e do mar.
Com efeito, a pesca é um dos focos industriais de destaque e um dos mais importantes vetores do comércio figueirense. No entanto, ainda no século XIX, a pesca costeira e de mar era pouco significativa relativamente ao desenvolvimento económico desta cidade.
Nessa época, a pesca fluvial dominava as economias familiares, sendo praticada em toda a bacia inferior do rio Mondego, desde Coimbra à Figueira da Foz, e no seu estuário, local fértil e habitat piscícola privilegiado, onde o robalo abundava.
Como acontece quase sempre, os recursos naturais da região condicionaram, também neste caso, as preparações culinárias das populações. Assim, a existência do robalo naquela zona deu origem à sua introdução na gastronomia figueirense.
Originalmente, prato tradicional de pescadores, a “Sopa de Cabeça de Robalo” à semelhança do que acontece noutros locais do país (como Peniche, com a famosa “Sopa de Cabeça de Congro”), constitui uma forma de aproveitar uma parte pouco nobre e não comestível daquele peixe.
RECEITA
Ingredientes para 10 pessoas
3 cabeças de robalo; 1,500kg de batatas; 1kg de tomates; 200grs de cebolas; 1dl de azeite; 300grs de pimentos verdes;500grs de pão caseiro;10 ovos (1); q.b. de sal
Preparação
Pelar os tomates, retirar as sementes e picar. Descascar, lavar e picar as cebolas. Alourar as cebolas em azeite numa caçarola. Adicionar o tomate e deixar refogar. Lavar, limpar os pimentos e cortar em tiras. Juntar os pimentos ao refogado, regar com 3 litros de água e temperar com sal. Descascar, lavar e cortar às rodelas as batatas. Adicionar as batatas na panela, temperar de sal e deixar cozes. Retirar as batatas, guardando-as em lugar quente. Cozer as cabeças e peixe na água que cozeu as batatas. Cortar o pão em fatias e colocar nos pratos de servir. Retirar as cabeças de peixe e retificar o tempero do caldo. Escalfar os ovos (1) no caldo ou numa mistura de água, sal e vinagre. Colocar sobre o pão um ovo escalfado e regar com o caldo. O peixe e as batatas são servidos à parte.
Curiosidade: antigamente esta sopa era servida ao mesmo tempo que a cabeça de robalo e as batatas.
Na utilização dos ovos há que ter em conta: a sua frescura; a sua armazenagem em local fresco (a uma temperatura inferior a 15ºc) ou refrigerados; a sua proteção de todos os odores anormais, principalmente de frutas, do peixe e da carne; a sua lavagem e desinfeção (com uma mistura de 10 gotas de lixivia ou outro desinfetante apropriado), para um litro de água imediatamente antes da sua utilização; o seu manuseamento em que devem ser partidos individualmente para um recipiente em separado e só depois, se se comprovar a sua frescura e qualidade, utilizados na confeção da receita. Como a casca do ovo é porosa (permite a entrada de odores, bactérias, etc.) todos estes cuidados são extremamente importantes.
Valor Nutricional
Valor calórico total da receita: 3,300kcal
Distribuição da composição nutricional: 14% proteína; 45% lípidos; 41% hidratos de carbono.
Valor calórico por pessoa: 330 calorias
In: A Cultura Gastronómica em Portugal – Edição do Centro de Formação Profissional do Setor Alimentar
Foto do peixe: C. M. Esposende
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