//«SardinhIces» (curiosidades)

«SardinhIces» (curiosidades)

Conheça melhor temas como: As sardinhadas, a petinga e a esquilha, sardinha no pão, escorchar, sardinhas-bife, sardinha na telha e lenda da sardinha em Silves.

A petinga e a esquilha

À sardinha pequena chama-se petinga, que em Setúbal ganha também o nome de esquilha. Ainda hoje, nesta cidade, no linguajar das gentes ligadas ao mar se chama às crianças «esquilha».

Grelhar (ou assar)

Em Setúbal e algumas outras zonas,popularmente diz-se que o peixe é ‘assado’ e não grelhado.

Como toda a confeção culinária a sardinha grelhada também tem preceitos. E há quem as asse (ou grelhe) melhor que outros. Use lume constante e não muito forte. Pode colocar carvão nas laterais do grelhador, que se vai transformando em brasas, para repor na zona de assar e manter o lume ‘vivo’.

Não se esqueça que, se a sardinha estiver gorda, há uma ‘cozedura’ por inércia, isto é, depois de sair do lume contínua a cozinhar.

Sardinha no pão

A sardinha assada e colocada no pão é hoje um costume que valoriza a tradição.

No tempo da escassez era importante, sobretudo no interior, porque dava sabor ao pão e permitia complementar a refeição comendo mais pão. Hoje, por vezes é uma curiosidade gastronómica. Quem experimenta fica fã.

A sardinha no pão, depois de embeber o pingo, pode levar uma passagem pelo fogo a tostar.

Trata-se de um procedimento que faz lembrar o torricado no Ribatejo em que o pão vai a torrar, com alho e azeite.

Sardinha escorchada (Escorchar/Descabeçar)

Retiram-se as vísceras (que se deterioram mais facilmente) e a cabeça. Com este procedimento aumenta-se o tempo de conservação em sal. Era assim que era transportada para o interior de Portugal, nomeadamente Trás-os-Montes, onde era (e é) integrada nas famosas bôlas.

Em Setúbal e muitos outras zonas piscatórias, também se ‘escorchavam’ as sardinhas conservando-as em sal, para os períodos em que o mau tempo não permitia “ir ao mar”.

É, também, uma boa opção para guardar sardinhas um ou dois dias no frigorífico, por exemplo.

Sardinha na telha, de caldeirada, de escabeche

Na zona centro de Portugal, nomeadamente em Mira, confeciona-se a ‘sardinha na telha’, uma tradição associada aos pescadores da Arte Xávega. No referido município a Confraria dos Nabos, na freguesia de Carapelhos naquele concelho, tem vindo a prestar um importante contributo para a ‘recuperação’ deste prato.

Em muitas regiões, algumas afastadas do litoral, há tradição de confecionar caldeiradas de sardinha. Outras, apresentam receitas de caldeirada de peixes variados, com a recomendação de incluir, no cimo do tacho, algumas sardinhas.

As sardinhadas

Há normalmente duas situações comuns às sardinhadas, sobretudo aquelas com muitos participantes.

No início, sobretudo se a hora vai adiantada, a maior parte das pessoas gosta delas ‘mal passadas’. Após as primeiras, já podem ser mais ‘bem passadas’.

No final alguns queixam-se da última sardinha que comeram. Dizem sempre: “não devia ter comido aquela última sardinha” como forma de justificar a má disposição provocada por excesso de comido ou, sobretudo, de bebida.

As ‘sardinhas-bife’

Em Armil, freguesia de Fafe, chamava-se às sardinhas «bifes de Armil». Isto porque os peixeiros ocultavam a profissão e diziam que vendiam bifes.

Claro que não devia ser fácil manter a falsa atividade pois o cheiro a peixe, denunciava-os.

A lenda da sardinha em Silves

Quando os mouros nas muralhas, dentro do castelo de Silves e os cristãos os cercavam, aqueles recolheram-se na cidadela e viram-se em grande aperto, já quase sem água. Passou uma gaivota no ar e deixou cair por acaso uma sardinha. Os mouros, como estratagema, atiraram a sardinha fora da muralha, para o campo dos cristãos. Estes disseram: «Oh! Há lá muito peixe fresco; não se rendem tão cedo!». E levantaram o cerco.

(Leite de Vasconcelos – Contos Populares e Lendas)