Uma grande parte dos empresários da área de alimentação e bebidas ainda dá pouca atenção às instalações sanitárias ou, usando uma definição mais técnica: o conjunto das instalações destinadas a satisfazer as necessidades fisiológicas.
Vulgarmente chamamos-lhes «casas de banho» e, na maioria dos casos, estão identificadas com apenas duas letras: WC, que é a sigla da expressão inglesa «water closet», que, sem tradução à letra e de acordo com o Ciberdúvidas terá o significado de «casa de banho (banheiro)».
Em restaurantes, snacks e cafés mais modestos, é comum encontrar-se instalações que obrigam a verdadeiros contorcionismos para se entrar e para fechar a porta. No caso das instalações para homens, muitas vezes quem precisa de usar a sanita (se tiver coragem) fica com a boca e o nariz ao nível do urinol.
É verdade que, entre outras, a legislação apresenta exigências como:
“Os estabelecimentos com mais de 16 lugares devem ter instalações sanitárias para utentes separadas por sexo.
As instalações sanitárias para clientes devem ter água corrente, cabinas com retrete independentes (com dispositivos para papel higiénico), e estar equipadas com dispositivos de ventilação artificial com contínua renovação de ar, adequados à sua dimensão.
Todos os lavatórios devem ter água corrente, quente e fria, com dispositivos de sabão líquido e toalhetes descartáveis ou secador de mãos.”
Mas deixemos as questões técnicas e abordemos as higiénicas. Ou melhor, a falta delas.
Chão inundado por demasiada pressão nas torneiras ou ruturas de canalização, falta de sabão líquido, recipientes dos toalhetes vazios e secadores de mão avariados (quando os há), autoclismos avariados, sanitas entupidas e papel higiénico no chão. Esta é uma lista (simples) do muito que ainda encontramos, maioritariamente, em estabelecimentos de restauração e bebidas mais modestos. Mas se é verdade que a estes não se poderão exigir condições de luxo, há um mínimo a exigir.
Do inquérito público que fizemos através do Painel de Leitores, resultaram comentários como: “reclamei junto do responsável” (poucos), ou “registei no livro de reclamações” (curiosamente, ainda menos). Registe-se ainda, (em maior número) os que afirmam “nunca mais lá voltei”.
Na rubrica «À Mesa com…» que existia no JS, um dos entrevistados, António Sala, declarava: “Dou especial importância à competência e simpatia dos seus funcionários. E, infelizmente não muito praticado, que as casas de banho sejam imaculadamente limpas e absolutamente higiénicas.
Estes e outros itens, são razões para eu confiar, ou não, na cozinha que me vai servir uma refeição. “
Maria Ester Vargas, ex-presidente da CEUCO Portugal (Conselho Europeu de Confrarias Enogastronómicas), confreira da Confraria Dão Lafões e atual adida social na Embaixada de Portugal em Berna (Suíça) é da opinião que: “a má experiência por que se passa ao utilizar a casa de banho de um estabelecimento hoteleiro é sempre mais forte do que a eventual qualidade do que se come ou bebe.”
“Na ida a um restaurante ou outro estabelecimento de restauração e bebidas, independentemente das sensações mais ou menos positivas provocadas pelo serviço e pelos produtos consumidos, há um aspecto que muitas vezes é descurado e que pode desprestigiar qualquer estabelecimento hoteleiro, independentemente da sua categoria – as casas de banho, os lavabos ou o “toilette”, se preferirem.
Sendo obrigatória por lei a existência deste equipamento, em alguns casos deixa muito a desejar. Pela exiguidade do espaço, pela falta de arejamento, pela limpeza deficiente, pelo mau gosto, pela falta de sabonete, pelas torneiras e pelos autoclismos a pingar, pelo cheiro exagerado de desinfectantes, normalmente a agressiva lixívia, pelas portas que não fecham, pelo sistema de secagem das mãos que não funciona, pelos toalhetes que quase sempre acabaram ou jazem pelo chão por vezes pela incúria de quem os utiliza, ou seja, uma panóplia de aberrações que levam o cliente a querer sair dali o mais depressa possível e sem regressar.
Seja à chegada ou à saída, a má experiência por que se passa ao utilizar a casa de banho de um estabelecimento hoteleiro é sempre mais forte do que a eventual qualidade do que se come ou bebe.
Uma palavra de apreço, contudo, para aqueles que têm esta questão em consideração e lhe atribuem a devida importância, não considerando que este espaço deva ser negligenciado.
É que afinal, ir a um restaurante ou a um café é muito mais do que valorizar aquilo que é servido à mesa. É todo um ambiente harmónico, é uma sensação de prazer que não deve (não pode) ser perturbada e que resulta da conjugação de diversos elementos, entre os quais ressaltam as chamadas casas de banho, ou instalações sanitárias.”
Henrique Moura, um minhoto, ex-Presidente da Região Turismo do Verde Minho e atualmente viajante e apreciador da boa mesa, não tem dúvidas em afirmar que: “se estiverem com falta de asseio, ficamos desconfiados com as condições de outras dependências, nomeadamente a cozinha e hesitamos mesmo em permanecer.”
“Os sanitários são locais onde tem que imperar a higiene na sua máxima expressão, pois trata-se de locais muito frequentados, onde aparece todo o tipo de pessoas. Porque é que temos de considerar os sanitários como o «espelho»? Precisamente porque se estiverem mal cheirosos, com falta de asseio, escuros, com vidros e ou espelhos partidos, sem água, sem sabão e toalhas, ficamos desconfiados com as condições de outras dependências, nomeadamente a cozinha e hesitamos mesmo em permanecer.
A própria sinalização é importante por fazer parte da tal primeira imagem. Colocar umas placas com as letras wc é usual em todo o lado, mas se estiverem personalizados é um sinal positivo pois denuncia que há cuidado e esmero, que interpretamos como um sinal de preocupação com o bem estar dos clientes.
Já recusei estar em estabelecimentos com os sanitários deficientes mas, é preciso dizer que já fiquei muitas vezes admirado com o bom gosto e asseio de sanitários de outros estabelecimentos, o que me aumentou o prazer em os frequentar.”
Publicado no JS em 20.04.2016