//Porque se diz: pôr (e levantar) a mesa?

Porque se diz: pôr (e levantar) a mesa?

E sabe o que eram as comidas públicas? E quando começou a existir a sala de jantar?

Até ao século dezoito, pôr a mesa, era mesmo colocar o móvel num determinado local.
Nas chamadas refeições privadas, o rei decidia em que sala queria comer. A mesa era então montada colocando-se uma placa de madeira em cima de tripés. Punha-se a mesa onde o rei queria comer nesse dia. Portanto, a mesa era móvel e a sua localização dependia das ocasiões, das estações do ano ou da simples vontade do rei.
Será esta a razão de ainda hoje dizermos que ‘vamos pôr a mesa, quando na verdade vamos apenas prepará-la para a refeição.
Como na maior parte das vezes o rei e a rainha comiam sozinhos, em separado (onde mandavam pôr a mesa), também tinham cozinhas e pessoal, diferentes.

Refeições públicas
Mas se existiam as refeições privadas, a partir de determinada altura passaram a existir também as ‘refeições públicas’. E ao que parece, assistir (sem nada comer) era considerado um privilégio.
Como refere Ana Marques Pereira no livro «Mesa Real da Dinastia de Bragança» foi o Infante D. Pedro (1392-1449), filho de D. João I, que introduziu em Portugal o hábito de os reis e os príncipes comerem em público. Estávamos na primeira metade do século XV. Chamavam-lhe ‘comidas públicas’ e tinham lugar nos dias festivos.
Eram refeições com grande aparato a que assistiam a corte e os oficiais da Casa Real, que permaneciam de pé, em localizações previamente definidas pelo protocolo. Se o rei, após as audiências, decidia comer em público as pessoas que participavam nessas audiências também podiam assistir.

A sala de jantar
“(…) a sala de jantar* como divisão certa e obrigatória das refeições, nasceu apenas nos meados do século XVIII.
(…) No início do século XVIII começam a definir-se os espaços da casa, a exigir-se um maior conforto e a ter ideia desse luxo que é a privacidade. Foram os ingleses, por uma questão prática, que criaram o que se entende por uma sala de jantar, ou seja, um local quotidiano e determinado para as refeições, com uma mesa centrada, com cadeiras iguais e bufetes como móveis de apoio.
Anteriormente em Itália e depois no resto da Europa usavam-se credências, “credenzas”, móveis colocados próximos da mesa de jantar, onde se ostentava a baixela de ouro, estanho, prata, majólica ou porcelana e que pela imponência dos objectos dava credibilidade sócio-económica à família. Na sala de jantar são os bufetes os herdeiros da credência.
O nascimento da sala de jantar acontece no fim do Rocaille, numa sociedade apaixonada pela vida, desejosa de prazeres, de intimismo e informalidade.
César Valença – Museu Nogueira da Silva

Foto interior: Catálogo de ‘A Sala de jantar na Segunda Metade do Século XIX”, Ed. Museu Nogueira da Silva/UM, Braga, 2002.