Mais do que questões de higiene, o programa da TVI mostrou a fragilidade da gestão nos restaurantes. Inspetor geral da ASAE diz que “apenas enfatizou um dado já conhecido”.
Às imagens que propositadamente faziam espetáculo das situações de falta de higiene e segurança alimentar, ‘Pesadelo na Cozinha’ juntou a postura e a linguagem do Chefe Ljubomir Stanisic. O resto foram os próprios participantes que ‘forneceram’.
Inaptidão para gerir pessoas, ausência de conhecimentos mínimos para garantir a qualidade dos produtos a adquirir, falta de noção dos custos para definir o preço de venda, incapacidade na elaboração de ementas, incompetência no controlo de prazos de validade e condições de conservação. Estas são apenas algumas das realidades mostradas, às quais se junta o ‘pesadelo’ da falta de higiene, aquela que, obviamente, mais chocou os espetadores.
Na verdade, todas estas evidências – e outras que fica por referir – demonstram, sobretudo, a gritante ausência de capacidade de gestão de uma grande parte dos nossos empresários da chamada restauração.
Os tempos mudaram e hoje não basta ter jeito para fazer uns petiscos, ser um ‘bom garfo’, ou mesmo ter o sonho de possuir um restaurante. Ou se aprendeu durante uns anos com alguém que já o faz (preferencialmente bem), ou se tirou um curso que transmita, pelo menos, os princípios básicos de gestão. Isto é, ter capacidade para não cometer os erros que o programa de televisão evidenciou.
A concorrência é feroz, os consumidores estão cada vez mais exigentes e, felizmente, temos em Portugal a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) que em tempos foi tão criticada.
Há que ter em conta algum ‘exagero’ do espetáculo televisivo, e lembrar que foram mostradas apenas as situações negativas, transmitindo uma imagem de «um todo» que era, afinal, apenas uma pequena parte. Ainda assim, felizmente que existe a ASAE, para sancionar os transgressores e, através da divulgação das sanções, «avisar» os que ainda não foram identificados.
Inspetor geral da ASAE
A propósito da ASAE, recordamos aqui algumas declarações da entrevista que Pedro Portugal Gaspar, Inspetor-Geral deste organismo, concedeu recentemente a Andrea Pinto do ‘Notícias ao Minuto’.
Pedro Gaspar afirma que “o programa pouco ou nada acrescentou à prática da ASAE no sentido em que este sempre foi um setor muito fiscalizado. Basicamente, o programa apenas enfatizou um dado que nós já conhecíamos”.
Revelando que fiscalizam cerca de três dezenas de restaurantes por dia com suspensão de apenas um, aquele responsável acrescenta, referindo-se a ‘Pesadelo no Cozinha’: A minha interpretação é a de que se fizer um programa só a enfatizar um lado, dá a ideia de que aquele é o universo, quando de facto não o é.
Quanto ao tipo de infrações mais comuns atualmente: “… as relacionadas com a falta do aviso do proibido fumar ou do livro de reclamações, ou de outra documentação exigida. São infrações administrativas e elas até ocorrem com frequência”… “E depois há um outro conjunto de infrações que são mais complexas, como é o caso da higienização do espaço, também no que concerne à restauração, e que é, naturalmente, das áreas onde tem de haver mais cuidado. É uma infração que identificamos muito, embora até tenha baixado”.