O que traziam, o que se comia a bordo e a ‘cura’ para o escorbuto.
Nos últimos anos muitos produtos alimentares de outras partes do mundo passaram a marcar presença em supermercados e nas confeções culinárias de restaurantes, sobretudo na área da cozinha moderna. Mas também em lojas que abastecem as comunidades brasileiras, africanas ou asiáticas e outras presentes em Portugal. É a globalização alimentar do novo milénio.
Mas há cerca de 500 anos, foram os portugueses a dar um forte incremento à ‘globalização’. Na verdade, já existia uma significativa circulação de mercadorias entre países, mas foi com os descobrimentos, a partir do séc. XV, que se trocaram muitas espécies de plantas entre diversas regiões do globo com enormes implicações ecológicas e económicas.
Alguns exemplos:
– Do continente africano os navegadores portugueses trouxeram a malagueta, o coco, a melancia, e mais tarde também o café.
– Da Ásia vieram especiarias exóticas como a pimenta, a canela, o gengibre, o cravo-da-índia e também a banana, a manga e a laranja doce.
– Da América, o continente mais rico e exuberante em termos vegetais, veio a abóbora, o amendoim, o ananás, a batata, a batata-doce, a baunilha, o cacau (e o chocolate), o caju, o feijão, o girassol, o maracujá, o milho, a papaia, o pimento e o tomate.
A Comida nas caravelas
A alimentação dos tripulantes devido às precárias condições de conservação nas embarcações, tinham que ter a qualidade de durar mais tempo. São exemplo, as carnes salgadas ou defumadas, os peixes salgados, as compotas, as marmeladas e as conservas de azeitonas. Mas o alimento mais importante e consumido em maior quantidade era o biscoito, uma palavra que tem origem no latim ‘biscoctus’, que significa ‘cozido duas vezes’. Eram feitos com farinha e água e por irem duas vezes ao forno ficavam bastante duros, aguentando, por isso muito tempo. Para os comerem os marinheiros vezes tinham que os mergulhar em água.
(Terá nascido nessa altura a expressão “duro que nem cornos”?)
Apesar de disporem de arroz, lentilhas e grão-de-bico, um dos maiores problemas a bordo era a curta duração de legumes, hortaliças e frutas frescas com a consequente falta de vitamina C, de que resultava a ocorrência do escorbuto, uma doença que provoca, nomeadamente, hemorragias nas gengivas e consequente perda de dentes.
A solução deste problema apareceu dois séculos depois através de um médico da marinha inglesa, chamado James Lindt (1716-1794). Pensando no facto de muito rapidamente se esgotarem os vegetais, admitiu que pudesse estar na alimentação a causa do escorbuto e resolveu selecionar 12 marinheiros que apresentavam os sintomas da doença e administrou-lhes 6 dietas diferentes, cada uma com um tipo de vegetal. Com essa ‘experiência’ percebeu que os 2 marinheiros que consumiram laranjas e limões, apresentaram melhoras imediatas.
Pouco tempo depois praticamente todos os navios incluíam laranjas e limões na alimentação dos marinheiros, diminuindo assim drasticamente o problema do escorbuto.
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