Antes, primeiro pensava-se no que queríamos comer. Agora é a segurança que vem na frente da decisão.
Sim, nada é como antes. Mas ainda há quem insista em não desistir do prazer de estar à mesa do restaurante, em amena cavaqueira e a elogiar ou criticar as escolhas gastronómicas que nos servem. Uma das diferenças está na ‘cronologia’ dos requisitos que levam à escolha do local do repasto.
Conto-vos a minha mais recente experiência, ocorrida há pouco mais de uma semana.
Por razões (fortes) que me dispenso de enunciar, um grupo de 4 pessoas (de que eu fazia parte) decidiu reduzir ao mínimo os convivas, mas manter a promessa de levar uma aniversariante de quase 80 anos a jantar para comemoração do seu aniversário.
Desta vez não aconteceu a habitual troca de opiniões sobre o tipo de restaurante a escolher. A questão era, que restaurante nos dá ‘garantias de segurança’ em relação à pandemia e, pela minha atividade profissional, esperavam uma sugestão minha.
Entre duas ou três opções que me surgiram, optei por um local onde esperava encontrar não apenas as mais ‘básicas’, como o desinfetante e as máscaras, mas também as condições da sala, o distanciamento das mesas, a consulta da ementa e principalmente o muitas vezes esquecido mas agora ainda mais importante serviço de sala. E optámos pelo D’Bacalhau, no Parque das Nações em Lisboa, pensando também na facilidade de acesso e estacionamento.
Já tinha visto a ‘promoção’ das condições do espaço, escutado algumas confirmações de conhecidos que ali haviam estado recentemente e, confesso, também por conhecer o profissionalismo do empresário Júlio Fernandes, recomendei sem grande hesitação.
E apesar da sensação de uma sala aparentemente grande para o reduzido número de mesas e da distância entre cada um dos cinco amesendados, foi quase uma refeição de ‘antes’ e digo ‘quase’ porque, todos concordaremos, o ‘agora’ exige sempre cuidados suplementares.
Correspondeu totalmente ao que esperávamos e confirmaram-se as expetativas. Sentimo-nos seguros e por isso, talvez com exceção da quase octogenária, todos concluímos que vamos continuar a fazer refeições nos restaurantes que garantam segurança, sendo essa, agora, uma condição decisiva para a escolha, antes mesmo da expetativa de qualidade e diversidade da oferta gastronómica. E embora com alguns restaurantes já encerrados, ainda são muitas as opções em todo o território nacional.
Acredito que esta conclusão possa ser retirada por muitos (as) dos (as) que não querem abdicar de frequentar restaurantes e por isso é tão importante que TODOS os que mantêm atividade nestes tempos conturbados CUMPRAM escrupulosamente o que deles se espera. Se assim não for, não se dirá que em ‘tal’ restaurante aconteceu, mas que ‘aconteceu’ NOS restaurantes. E já percebemos as consequências que advirão, a juntar às que já cá estão.
Mas porque os restaurantes (nem todos) continuam a ser locais onde vamos para ser felizes a comer e beber, aqui fica o relato do que gastronomicamente aconteceu no D’bacalhau:
Não podíamos deixar de iniciar a refeição com as (justamente) afamadas pataniscas vencedoras do concurso da ‘Melhor Patanisca’ em 2018.
Depois, o chamado ‘misto’ de bacalhau com quatro opções diferenciadas e uma ‘lagueirada’ que foi a estrela da noite pela qualidade do bacalhau, o ponto de ‘assadura’, as batatas, os restantes acompanhamentos e o azeite.
Nota – Este ‘testemunho’ é também a minha homenagem – justa e sincera – a quem insiste em manter a atividade, com o objetivo de através do prazer da mesa, nos compensar destes tempos de incerteza.
E já agora, a refeição referida foi paga pelo valor normal e os simpáticos ‘miminhos da casa’ para a aniversariantes, são os que habitualmente ali se praticam.
Amilcar Malhó
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