Terminou mais uma (renovada) edição do ‘pai’ dos eventos gastronómicos em Portugal.
Esta ‘paternidade’ ainda hoje muita vezes referida, leva-nos a uma distância temporal que já ultrapassou os 40 anos (esta foi a 41ª edição) e ao facto de ser um evento pioneiro num formato que colocava num único espaço a gastronomia tradicional das várias regiões de turismo de Portugal.
Tradição e região foram, assim, duas ‘marcas’ que se colaram ao evento mantendo-se como referência ao longo do tempo, para a maioria dos visitantes, que continuam a encontrar um conjunto de restaurantes representativos de regiões de Portugal, com qualidade e autenticidade q.b. na oferta gastronómica.
Mas a atualidade gastronómica em Portugal já não pode (não deve) ignorar a cozinha moderna e o conceito de street food, ambos presentes na reformulada edição deste ano, depois de algumas experiências em edições anteriores.
Em trânsito, num grupo que caminhava à minha frente, alguém comentou: “acho que aqui é a zona das modernices”. Não, não era um grupo de jovens e por isso, talvez, a designação modernice, alusiva ao espaço com propostas de cozinha moderna apresentadas por um conjunto de Chefs conhecidos e alguns até com as famosas Estrelas Michelin.
Desta vez, a aposta foi na apresentação de interessantes propostas originais ou inspiradas em iguarias tradicionais, no formato ‘petiscos’ e com preços entre os 4 e os 6€ o que representa uma excelente oportunidade para estas verdadeiras experiências gastronómicas. Em minha opinião, este pode ser o caminho mais correto e a continuar em próximas edições, com as necessárias correções ‘pós-edição zero’ como mais lugares sentados e a existência de oferta vínica em moldes a estudar.
Refira-se, a propósito, que o vinho não tem sido muito bem tratado, com algumas experiências sem estratégia e, por isso, com resultados muito aquém do potencial que existe. Num local cujo tema estimula o convívio, é necessário estimular a prática da máxima: “gastronomia e vinho, porque ninguém é feliz sozinho”
O espaço de street food terá, talvez, sido penalizado por estar na saída do recinto e ao ar livre, mas também por ter ainda um percurso a fazer em determinados eventos, como é o caso deste, onde ainda ‘umas carrinhas’ e um balcão de cerveja pode confundir-se com um local para uma bifana engordurada e uma bjeca que, evidentemente, ali não existe.
Por mim, ao contrário de anos anteriores, parece-me que finalmente se encontrou um caminho em que se integra a modernidade sem ‘agredir’ a tradição.
Talvez tenha chegado o momento de melhorar o que se fez nesta edição, em vez de voltar a mudar.
Amilcar Malhó
(Jornalista e gastrónomo/enófilo com alguns aninhos de percurso)
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