Há uma zona nos mares entre os 200 e os mil metros de profundidade que “pode alimentar o mundo” mas cuja exploração deve ser cautelosa.
A revelação resulta de um estudo que foi publicado na revista «Frontiers in Marine Science» em 2016 e alerta para o risco da exploração excessiva daquela zona, “que alberga uma vasta comunidade de peixes, lulas e crustáceos, e cuja biomassa ultrapassa a totalidade das pescas feitas actualmente em todo o mundo”, explicava então, um comunicado da Faculdade de Ciências de Lisboa.
Da equipa de autores do estudo faz parte Ricardo Serrão Santos, do MARE-Universidade dos Açores, que em conjunto com cientistas de instituições espanholas, dinamarquesas e britânicas diz que “há uma mina de ouro para alimentação humana” entre os 200 e os mil metros (chamada zona mesopelágica), fonte de proteínas e ómega-3, mas que ainda é pouco conhecida.
É uma das zonas menos investigadas do ecossistema de mar aberto e uma das “grandes lacunas no nosso conhecimento”, explicou então à Lusa Ricardo Serrão Santos numa declaração por escrito, acrescentando que só recentemente “se verificou que a biomassa existente neste ambiente é extremamente superior ao que se suspeitava”.
No futuro, admitiu, essa zona de profundidade do mar pode ser explorada para produção de farinhas e óleos a partir dos peixes, considerados muito ricos em ómega-3.
Ricardo Serrão Santos explicou que os organismos que vivem nessa zona do oceano vêm à noite à superfície para se alimentar e protegem-se durante o dia nas águas profundas. É lá a “grande reserva alimentar” dos predadores oceânicos (como atuns ou tubarões).
Em abril de 2017, o Jornal Económico dava conta do projeto CORAL – Sustainable Ocean Exploitation: Tools and Sensors, resultante de uma parceria entre o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental da Universidade do Porto (CIIMAR) e o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC).
“O mar profundo contém uma vasta reserva de recursos, tanto de origem mineral como biológica, com um vasto potencial no entanto, muitos desses recursos estão localizados em ecossistemas sensíveis, que são mal estudados e compreendidos”, revela Filipe Castro, um dos coordenadores do projeto e investigador no CIIMAR, em comunicado. Neste contexto, torna-se “fundamental o desenvolvimento de ferramentas tecnológicas e sensores adequados para assegurar uma exploração sustentável e responsável destes recursos marinhos e ainda a implementação de ações estratégicas com impacto nacional e regional”, salienta.
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