//O Halloween está a ‘matar’ o Pão por Deus

O Halloween está a ‘matar’ o Pão por Deus

Crianças com um saco de pano na mão a pedir frutos secos e bolinhos estão a ser substituídos por ‘mascarados’ a atirar ovos e farinha se não receberem ‘doçuras’.

Era uma tradição que se repetia todos os anos, sobretudo em zonas rurais e que dificilmente poderia acontecer nas cidades. Já o Halloween chega hoje a qualquer pequena localidade.

É verdade que ainda persistem alguns exemplos, nomeadamente através de escolas do ensino básico que incentivam os alunos a ir de porta em porta a pedir o ‘Pão por Deus’. Mas em tempos mais recuados, no dia de Todos os Santos, eram muitas as aldeias em que as crianças, ‘bem vestidinhas’, iam de saquinha de pano na mão para guardar as ofertas de bolos, broínhas, nozes, figos e amêndoas. E se muitas o faziam incentivados pelos pais apenas por ser uma tradição, havia quem o fizesse para compensar a falta de alimentos em casa.

A saída das famílias do interior para as grandes cidades e a diminuição do número de crianças tem contribuído para que esta tradição esteja a desaparecer e a ser, de certa forma, substituída pela versão ‘americanizada’ do Halloween.

Embora tenha surgido em Portugal há pouco mais de 20 anos, o ‘Dia das Bruxas’ tem vindo a ganhar popularidade, sobretudo alimentada pelo negócio que proporciona, seja nas venda de fatos e máscaras cujas sobras ficam para vender daqui a uns meses, no carnaval, ou pelos doces que agora enchem os sacos dos que vão de porta em porta e gritam “doçura ou travessura”.

Agora fazem-no, normalmente, na noite de 31 de outubro e se não receberem doçuras, lá vão travessuras que em muitos casos constam de farinha ou ovos ‘atirados’ aos donos da casa.

Mas o Halloween, embora tenha sido popularizada pelos Estados Unidos, é uma tradição com origem celta, portanto europeia, que os americanos adotaram e transformaram na festividade mais lucrativa depois do Natal. Só em doces, estima-se que renda cerca de 1,5 milhões de euros todos os anos.

Esta celebração, que aos poucos tem vindo a ‘penetrar’ noutras partes do mundo, só ganhou força nos Estados Unidos da América em meados do século XIX, com a chegada dos irlandeses que fugiam à Grande Fome (1845-1849) no seu país. Levada por estes europeus esta  festividade ganhou popularidade e os norte-americanos começaram a mascarar-se e a pedir dinheiro ou comida de porta em porta, uma prática que acabou por se tornar no típico trick or treat (“doce ou travessura”).

Quanto à utilização das abóboras, parece estar associada a uma lenda sobre um irlandês malvado chamado Jack que, por não merecer lugar no céu nem no inferno, quando morreu, o seu espirito vagueava pelo mundo a carregar uma abóbora oca com uma vela dentro.

Foto saco para o pão por Deus: Secretaria Regional de Educação e Cultura dos Açores