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Francesinhas vegetarianas?

Opinião: Amílcar Malhó

Antes de mais uma advertência: não sou apreciador de francesinhas. Mas isso não me impede de ter uma opinião sobre a utilização do nome, em ‘propostas’ alimentares em que apenas o pão e, eventualmente, o molho poderão ter relação com a famosa especialidade portuense.

Nada contra a alimentação vegetariana. Aliás, não tenho nada que ser contra ou a favor do que cada pessoa coma ou beba. Mas chamar francesinha a duas fatias de pão entre as quais se coloquem cogumelos, tofu, seitan e ‘enchidos de vegetais’ (?), já me parece errado. Muda-se a composição da iguaria, não pode manter-se o mesmo nome. E isto está a acontecer com muitas outras ‘composições’ culinárias como, por exemplo, o ’Brás’ ou o ‘Bulhão Pato’ em que o bacalhau ou as amêijoas são substituídas por frango, lulas, ou vegetais.

Mas voltemos à Francesinha que é constituída por queijo, fiambre, mortadela, carne assada, salsicha e linguiça fresca em pão de forma ou pão biju. Bem, esta é uma ‘receita’ apresentada como a original, embora se encontrem outras com o mesmo argumento mas com algumas substituições de um ingrediente por outro, sempre mantendo a carne e o queijo, pelo menos. E, claro, o molho que deve ‘inundar’ (cobrir) o pão e os condutos.

Parece ser consensual que a primeira casa a lançar a francesinha foi, em 1953, a Regaleira no Porto, cujo proprietário, um emigrante que regressou de França, ‘reinventou’ uma iguaria daquele país, chamada ‘croque-monsieur’.

Conta-se que o emigrante passou a receita do molho – ao que parece o principal segredo – a um colaborador de nome José Silva, que em 1962 foi como empregado para o café Mucaba em Vila Nova de Gaia e fez sucesso com o molho, abrindo em 1970 o Restaurante Marisqueira Majára, em Matosinhos, que se tornou famoso também pela oferta desta especialidade.

Quanto ao nome – francesinha – terá sido uma espécie de ‘homenagem’ da época às mulheres francesas, consideradas menos conservadoras logo, mais ousadas e atrevidas e, portanto, mais ‘picantes’, exatamente como se quer o molho das francesinhas.

Com ou sem a curiosa história, a francesinha pode já ser encontrada um pouco por todo o território nacional e até o já falecido Anthony Bourdain, Chef e apresentador do programa ‘No Reservations’, no Travel Channel a definiu em 2017 como: ‘Carne, queijo, gordura e pão: a combinação imortal’.

Então, porque raio aparece uma francesinha vegetariana, se apenas tem o pão e o molho como elemento original?

Será pelo molho?

Não seria mais correto algo como: sanduíche vegetariana com molho de francesinha?