“Nunca retirar o leite da alimentação de uma criança sem ter a certeza que é intolerante à lactose”, recomenda nutricionista.
O diretor da Faculdade de Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto adverte para os riscos de eliminar a lactose, principal açúcar do leite, da alimentação. Pedro Graça explica que a digestão da lactose necessita de uma enzima que está no intestino (lactase) que pode deixar de ser fabricada e até desaparecer se deixar de ser estimulada.
E esta é uma situação que pode acontecer quando se abandona totalmente o consumo de produtos lácteos, um risco para o qual o nutricionista deixa um alerta dirigido aos pais: “Nunca retirar o leite da alimentação de uma criança sem ter a certeza que é intolerante à lactose”, certeza que deve ser adquirida através de confirmação médica.
“Como a criança tem aparentemente sintomas, como diarreias, náuseas, flatulência, inchaço abdominal, que também podem acontecer por outros alimentos, e começa a associar-se isso ao leite – ou porque não gosta de leite -, os pais, com medo, pensam que a criança é intolerante à lactose, não fazem uma verificação adequada e, de repente, começam a retirar todos os produtos lácteos” da alimentação, descreveu.
“A mais recente informação científica que temos é que não existe nenhuma relação entre o consumo regular do leite e o aumento da mortalidade. Inclusive temos alguma informação que o consumo regular de leite, nomeadamente meio gordo ou magro, pode reduzir o risco do aparecimento de algumas doenças”, sublinhou Pedro Graça.
Biológicos, sem glúten e sem lactose
O crescimento na venda de produtos biológicos, sem glúten e sem lactose pode, à primeira vista, parecer um sinal de procura de alimentação mais saudável, mas a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, alerta para o facto de haver “muita confusão e muito falso conceito” à volta desta procura.
Para a bastonária, a procura de “mais saúde para viver melhor” não implica retirar da alimentação qualquer tipo de alimento ou de nutriente.”Pelo contrário, eliminar um determinado nutriente ou alimento sem uma patologia que o justifique, por uma crença ou por alguma passagem de informação que porventura não é credível”, ou por modas, “até pode aumentar o risco de vir a ter uma deficiência de algum nutriente”, adverte em declarações à Lusa.