//Dar saúde às pessoas e ao planeta é o caminho do caracol

Dar saúde às pessoas e ao planeta é o caminho do caracol

Vivemos com um ritmo cada vez mais acelerado, muitas vezes nem temos tempo para comer ou comemos de forma apressada. Os nossos frigoríficos e prateleiras estão repletos de alimentos vindos do fim do mundo, cheios de pesticidas e hormonas de crescimento: são os frangos do aviário, os ovos criados em gaiolas, as alfaces criadas em quinze dias, tudo muito ‘fast’, sempre as mesmas variedades e as mesmas espécies.

E porquê? Porque não temos tempo para parar, para pensar, para sermos consumidores críticos e não passivos, para entendermos que o que temos ‘mesmo ao nosso lado’ é melhor, mais saudável e mais amigo do ambiente.

Com o propósito de colocar o foco no conceito de saúde, o movimento Slow Food considera ser indispensável que os alimentos sejam bons, limpos e acessíveis a todos. Por essa razão e antecipando o Dia Mundial da Saúde, deu a conhecer um novo documento de orientação estratégica, que leva o mote ‘A nossa alimentação, a nossa saúde – Nutrir a biodiversidade para dar saúde às pessoas e ao planeta.’

O documento, apresentado no passado dia 7 de abril, dia Mundial da Saúde 2022, pretende chamar atenção para a necessidade urgente de desacelerar e repensar a nossa abordagem sobre saúde, alimentação e biodiversidade. É por isso que foi justamente no Dia Mundial da Saúde que o Slow Food reafirmou e colocou o acento sobre o seu compromisso de trabalhar por uma saúde melhor, promover hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis, que considera de vital importância para a saúde do meio ambiente e para a saúde das pessoas que produzem e consomem os alimentos.

“Existe um elo indissolúvel entre a saúde dos seres humanos, animais, vida das plantas e o meio ambiente: os problemas que afetam cada uma das categorias da vida devem ser enfrentados como parte de uma abordagem integrada”, afirmou Edie Mukiibi, vice-presidente do Slow Food, no Dia Mundial da Saúde 2022 e complementou “A saúde está no coração da visão do Slow Food de tornar o alimento bom, limpo e justo acessível a todos. Uma alimentação saudável não é apenas nutricionalmente adequada, mas também promove a saúde humana e respeita a do planeta. Deve favorecer uma grande diversidade de alimentos de origem vegetal, alimentos integrais e alimentos minimamente processados, cultivados localmente, com métodos sustentáveis… e, por último, mas não menos importante, uma alimentação saudável pode ser, e realmente é, prazerosa.”

Realçando a importância do movimento, as suas linhas orientadoras e a sua missão, Marta Messa, diretora do Slow Food Europa, afirmou: “A defesa da biodiversidade, a batalha que sempre caracterizou a nossa associação, representa uma solução viável para a crise climática e a desnutrição em todas as suas formas: supernutrição, subnitrição e deficiência de micronutrientes.”

Marta Messa, chamou a atenção para a importância de olhar para a forma como se produzem os alimentos, uma vez que esta tem um forte impacto na saúde humana, animal, das plantas e do planeta, acrescentando: “Considerando as principais tendências que estão a definir as diferentes dietas pelo mundo e a gerar doenças relacionadas à dieta e desnutrição, acreditamos que a abordagem One Health (Saúde Única) pode oferecer um entendimento de como a forma de produção dos alimentos pode ter um impacto direto na saúde humana, animal, das plantas e do planeta.”

O Documento de Posição do Slow Food sobre Alimento e Saúde examina a atual situação dos nossos sistemas alimentares globais e as formas como o movimento trabalha para promover uma alimentação saudável. O documento também apresenta uma pesquisa original conduzida pelo Slow Food para analisar o conteúdo nutricional dos seus produtos (produtos Slow Food), além de descrever as principais iniciativas da associação, como hortas e mercados locais, que dão apoio a comunidades locais e garantem uma alimentação saudável e sustentável, preservando a biodiversidade. Por fim, o mesmo descreve como os atuais sistemas alimentares são governados e chama a atenção para a necessidade de uma melhor formulação de políticas no campo da alimentação e saúde, concluindo com as recomendações do Slow Food para os formuladores de políticas na Europa.

O sistema atual é dominado por grandes empresas que produzem, processam, distribuem e vendem alimentos, determinando as opções alimentares das pessoas, definindo a disponibilidade de cima para baixo de alimentos e preços. A qualidade dos alimentos disponíveis é, portanto, pobre em nutrientes: com alto teor de gorduras, sal e açúcar e pobre em nutrientes importantes, como minerais e vitaminas. Além disso, a abundância excessiva desses alimentos também traz problemas de segurança alimentar, pois muitos indivíduos e comunidades agora não tem acesso a uma alimentação adequada e culturalmente apropriada.

Serena Milano, secretária-geral da Fundação Slow Food para a Biodiversidade, alertou para a necessidade de olhar para o que temos mesmo ao nosso lado e pensar de forma crítica, afirmando que “Muitas vezes esquecidas, as plantas comestíveis locais podem contribuir significativamente para uma alimentação adequada e diversidade alimentar. De um ponto de vista nutricional, muitas espécies de plantas comestíveis locais são mais ricas em vitaminas, minerais e macronutrientes como gorduras e proteínas do que espécies domésticas convencionais.”

Para além dos benefícios para a saúde, Serena Milano sublinhou também os benefícios que o consumo de plantas comestíveis locais tem para o meio ambiente e para a economia local: “Além disso, plantas comestíveis locais precisam de menos insumos (produtos químicos, água, fertilizantes), são naturalmente melhor adaptadas ao meio ambiente e são capazes de resistir melhor a doenças e pragas. Incentivar o consumo de plantas locais comestíveis é uma estratégia que aumenta a diversidade alimentar das populações urbanas e rurais ao longo do ano e reduz a fome e o risco de desnutrição em períodos de escassez de alimentos. Além do mais, é uma estratégia sustentável, econômica e comprovadamente eficaz”.

A segurança alimentar global está a ser fortemente ameaçada pelo aumento das temperaturas e mudanças na precipitação e eventos climáticos extremos, como ondas de calor, inundações e secas, que têm tido efeitos profundos na produtividade agrícola.

A forma como nos temos alimentado tem trazido consequências negativas tanto para a nossa saúde como para a saúde do ambiente: só a produção de carne é responsável por quase um quinto das emissões de gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, o consumo excessivo de carne vermelha tem efeitos negativos na saúde humana. A mudança climática também pode tornar o alimento menos nutritivo, pois o empobrecimento nutricional causado por concentrações de CO2 pode afetar as concentrações de quase todos os micronutrientes. É neste contexto que o Slow Food vem recordar-nos a necessidade de desacelerar pelo bem da nossa saúde e da saúde do planeta.

 

Sobre o Slow Food

O Slow Food é uma organização global de base, fundada em 1989 com o objetivo de impedir o desaparecimento das tradições e das culturas alimentares locais, contrastar o ritmo frenético de vida e a diminuição do interesse das pessoas por sua comida e a origem da mesma, e divulgar como as nossas escolhas alimentares podem afetar o resto do mundo.

Desde a sua criação, o Slow Food desenvolveu-se num movimento global envolvendo milhões de pessoas em mais de 160 países, que trabalham para garantir o acesso a um alimento bom, limpo e justo, para todos.

O Slow Food acredita que os alimentos estão ligados a muitos outros aspetos da vida, incluindo a cultura, a política, a agricultura e o meio ambiente. Através de nossas escolhas alimentares podemos influenciar, coletivamente, a forma dos alimentos serem cultivados, produzidos e distribuídos, gerando, assim, uma grande mudança.

IN: https://www.slowfood.com/pt-pt/