//Confrarias Gastronómicas (II): Os Capítulos

Confrarias Gastronómicas (II): Os Capítulos

Para muitas, é o ‘momento alto’, onde se recebem novos confrades e confrarias convidadas.

O Capítulo tem no dicionário, entre outras, a seguinte descrição: “Assembleia de cónegos, de ordens religiosas, etc.” revelando, como acontece com a existência das próprias confrarias, muitas influências da religião.

Por norma, as confrarias realizam o seu ‘Capítulo’ anualmente com o objetivo principal de receber e entronizar os novos membros, os confrades. É considerado o ‘momento alto’ da vida da confraria e, sejamos francos, para algumas é praticamente a única atividade que promovem ao longo do ano.

Para esta ‘jornada confrádica’ a anfitriã convida outras confrarias pelas quais também foi convidada. Ou seja, quem promove o ‘Capítulo’ convida e espera receber, maioritariamente, as confrarias em cujo capítulo esteve presente, registando-se assim, um certo compromisso de reciprocidade na presença.

O número de presenças de confrarias convidadas é, muitas vezes, interpretado como um elemento de valorização da anfitriã, uma espécie de ‘campeonato’. Na verdade, ao contrário do que possa parecer, garantir a presença de confrades nos capítulos das outras confrarias não é fácil.

Como referimos no artigo anterior, existem mais de uma centena de confrarias (federadas e não federadas) logo, se cada uma agendar o seu Capítulo para um fim-de-semana, normalmente sábado, excluindo períodos pouco propícios como as festividades (Páscoa, Natal) e o período anual de férias, o calendário fica apertado pois o ano tem apenas 52 semanas.

Embora com uma maior concentração na região centro, as confrarias localizam-se um pouco por todo o país o que obriga a deslocações, por vezes bastante longas. Tratando-se de encontros que, evidentemente, incluem repastos, normalmente almoços prolongados, muitos confrades visitantes acabam por pernoitar na região.

Como também referimos, estas associações vivem os problemas inerentes ao associativismo o principal dos quais é a carência de associados que, efetivamente, participem nas atividades. E a presença nos capítulos é a atividade mais regular das confrarias. Se a isto acrescentarmos os custos das deslocações, das refeições e de eventuais alojamentos, é fácil perceber que não serão muitos os confrades que possam representar as suas confrarias com a regularidade necessária.

Acresce ainda, muitas vezes, a ‘repetição’ dos modelos das cerimónias, uma certa sensaboria dos interventores principais (pese embora o reconhecido mérito que justifica o convite) e talvez o mais importante, embora cada vez menos frequente, uma ementa com pouca relação com a essência da gastronomia que deveria representar a anfitriã e com valores de comparticipação financeira, por vezes exagerados.

Algumas confrarias procuram já formas de ultrapassar estes constrangimentos, nomeadamente realizando os capítulos com convidados num ano e promovendo no ano seguinte uma atividade mais dedicada aos seus próprios confrades, por vezes até denominada ‘Capítulo interno’.

Amílcar Malhó

Fotos:
Capa – Capitulo da Confraria Nabos e Companhia em pleno campo cultivado de nabos. Trata-se de uma das mais ativas confrarias em Portugal, localizada na freguesia de Carapelhos (Mira), onde a grande maioria da população vive do cultivo e venda dos deliciosos grelos de nabo da Gândara.

Interior – Receção a confrarias convidadas no I Capítulo da Confraria Gastronómica de Palmela.

Nota – As fotos publicadas são meramente exemplificativas do tema e nunca, dos assuntos específicos abordados na perspetiva do autor.