//Começou o «ataque» à Lampreia

Começou o «ataque» à Lampreia

Entre 70 € e 100 € é quanto custa uma lampreia cozinhada neste início de época.

Em Valença já começou a habitual «romaria» de apreciadores, sobretudo ao fim de semana, a procurar em cerca de 30 restaurantes os tradicionais pratos de arroz de lampreia ou lampreia à bordalesa, mas também recheada, fumada/grelhada ou assada no forno.

Entre janeiro e abril, não apenas neste, mas em muitos outros municípios minhotos é sempre grande a procura por aquela que dizem sempre a melhor lampreia: a do Minho.

Particularmente nesta região, embora também em muitas outras sobretudo acima do rio Tejo, realizar-se-ão, até abril, eventos gastronómicos dedicados a este ciclóstomo.

O ano seco que se fez sentir fazia prever uma época com escassez, mas as chuvas dos últimos dias vieram afastar esse receio e “estão reunidas as condições para ser uma boa safra” disse à Lusa o presidente da Associação de Pescadores do rio Minho, Augusto Porto, acrescentando que o número de exemplares capturados até agora está dentro do normal para a época do ano. “Janeiro é sempre um mês complicado porque a lampreia é escassa”, razão que justifica os 50 euros por exemplar, valor que justificou com a escassez “típica do primeiro mês de abertura da faina.”.

Um valor que poderá, também, constituir uma explicação para os 70 a 100 € que estão a ser cobrados atualmente por restaurantes de norte a sul do País.

Ainda assim, há quem percorra muitos quilómetros para se deliciar com uma lampreia de determinada região, embora haja também quem não suporte o sabor ou, devido ao seu formato, tenha até dificuldade em a olhar no prato.

No século passado a lampreia era um peixe abundante nos rios do Norte de Portugal, bem como nos rios Tejo, Zêzere e Guadiana. A partir das décadas de 60-70 tem vindo a registar-se um declínio considerável nas capturas de lampreia em rios como o Mondego e o Tejo, e o seu desaparecimento de rios como o Douro e o Guadiana. A construção de barragens, aliada à poluição dos cursos de água, são as principais causas para este facto, que levou à classificação desta espécie como vulnerável, no Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

Em Portugal, a lampreia é comida sobretudo em arroz de lampreia, com uma confeção próxima da cabidela, e à bordalesa, um guisado normalmente acompanhado de arroz. Alguns restaurantes fazem-na também assada no espeto.
Para promover a lampreia, Penacova denominou-se em 1998 “Capital da Lampreia”, com a criação do fim-de-semana da Lampreia. Começou com 6 restaurantes e atualmente conta com cerca de uma dezena de unidades de restauração que normalmente fazem deslocar àquele município mais de 5000 visitantes.


Eis algumas das características deste ciclóstomo

Pele sem escamas, escura no dorso com manchas anegradas, e esbranquiçada na face ventral. Mede cerca de 60 cm.
Desloca-se nadando em movimentos ondulatórios, semelhantes às enguias. Pode subir rochas escarpadas apoiando-se com a boca. Descansa fixando-se nos rochedos ou em objetos flutuantes, barcos e animais aquáticos.

Quando chega a época, sobem os rios e procuram um local onde a água seja fresca, arejada e de corrente rápida, com o fundo de cascalho e areia; macho e fêmea preparam o lugar, retirando as pedras até a areia ficar a descoberto e finalmente, podem acasalar. Após o ritual de acasalamento, e a postura dos ovos, é necessário protege-los da corrente e do ataque dos inimigos. Removem então a areia que se mistura com os ovos, e estes aderem uns aos outros através de uma substância pegajosa.

Infelizmente, esta “história” não tem um final feliz, pois tudo indica que após a reprodução, o casal de ciclóstomos morre.

Não é só agora que este é considerado um “prato de luxo” pois já durante o Império Romano era ementa destinada aos Patrícios (classe mais alta da sociedade), e D. Luís, rei de França, mandava-as vir de Nantes em barricas cheias de água.