Desfile etnográfico leva-nos ao passado e mostra o ciclo ‘da vinha ao vinho’.

A Festa do Vinho e das Vindimas que vai acontecer no fim de semana de 11 a 13 de outubro em Bucelas, no concelho de Loures, alcança um dos pontos altos da programação na tarde de domingo dia 13, com um Desfile Etnográfico que percorre as ruas da localidade e, para além de nos transportar até ao passado, apresenta em ‘quadros vivos’ as várias fases de então, dos trabalhos que vão da terra ao copo.

Naquilo a que se chama ‘quadros alegóricos’, os espetadores podem assistir à passagem da representação de várias tarefas com personagens vestidas a rigor de acordo com a época e a fase do trabalho. Embora muitas atividades e suas formas de as executar tenham vindo a ser alteradas ao longo dos tempos, a observação desta ‘representação’ permite perceber que o percurso do vinho até chegar à garrafa é (ainda hoje) muito mais complexo e moroso do que a grande maioria dos consumidores imagina.

Eis o exemplo de um ‘representação’ apresentada num dos cortejos dos últimos anos:

A Surriba
Operação da plantação de uma vinha nova. No verão, a terra é cavada a um metro de profundidade para receber o bacelo.

Bacelo
Em Janeiro ou Fevereiro planta-se o bacelo, mediante marcação previamente feita e
assinalada com canas. O bacelo é adubado com um pouco de esterco e tapado com terra.

Enxertia
No ano seguinte à plantação do bacelo o enxerto é solidamente ligado com ráfia. A enxertia define a flor e o fruto do bacelo.

Poda
Consiste em cortar, total ou parcialmente as vides – ramos de cepa – para aumentar e melhorar a produção.

Empa
É feita em Fevereiro e consiste em vergar a vara de modo a formar um arco que é sustido com junca.

Cava
Feito em fins de maio, princípio de junho, com a finalidade alisar e arrancar as
ervas daninhas junto às cepas.

Sulfatação cura da vinha
Pulverização das vinhas com sulfato de cobre, para preservar do míldio.

Enxofre – cura da vinha.
Consiste em cobrir de enxofre as videiras evitando assim a ‘poeira’ e o ‘oídio’. Atualmente, usam-se fungicidas mais compostos, numa operação ainda designada ‘enxofrar’.

Cesteiro
Representação do modo de construção de um cesto de vime, que posteriormente será utilizado no transporte das uvas da vinha para o lagar.

Tanoeiro
As várias fases necessárias na construção de um barril e das ferramentas utilizadas.

Latoeiro
Fabrico das várias vasilhas em ‘folha’, utilizadas principalmente na adega

Ferreiro – Era quem fornecia muitas das alfaias relacionadas com a cultura da vinha
(Podões, enxadas, ancinhos, ferraduras e até canelos para calçar os animais)

Vindima
A colheita das uvas é o ponto alto do trabalho da vinha. O cacho é cortado com uma navalha ou tesoura de vindimar, para os cestos vindimos, que são carregados aos ombros por “ ranchos “ de homens e rapazes até ao lagar.

Carro de bois com dorna
Quando era possível a ida de bois até à vindima, as uvas eram carregadas na dorna. Junto à adega, as uvas eram transportadas da dorna para o lagar por meio de “cubas”.

Almoço nas vindimas
Também designado por “diafa”. Finada a vindima, todos os trabalhadores partilham uma refeição oferecida pelo proprietário, tornando-se motivo de festa.

Pisa
No lagar, e no mesmo dia que terminou a vindima, geralmente à noite, um grupo de
homens procede à pisa da uva. Um deles “comanda” o grupo de forma a coordenar os
movimentos da maneira certa e ritmada.

No Lagar a fazer o Pé com Vara
O pé da uva é reunido no centro do lagar, calcando sempre. É cintado com uma corda grossa e no topo leva um ”chapéu” (coberto da madeira) e vários “malhais”.

Lagar com fuso
Mais recente do que o sistema anterior, o pé colocado dentro do “chincho” e coberto com o chapéu e os malhais.

Laboratório
Representação de um laboratório onde se fazem análises diversa ao vinho.

Lavagem do vasilhame
Todo o vasilhame que é utilizado na vindima e no armazenamento do vinho, é cuidadosamente lavado antes e após a sua utilização, tarefa, além de morosa, por vezes árdua, especialmente no caso do vasilhame onde é mantido e conservado
o vinho

Destilação da aguardente
Aproveitamento do pé que, passando pela caldeira, proporciona a aguardente.

Secagem do folhelho
O “bagaço”(bagos já espremidos) é posto a secar na eira e posteriormente passando por uma ciranda que separa as peles das grainhas ‘folhelho’.

Adega
Local de fabrico e armazenamento do vinho. Deverá obedecer a certos requisitos para que o vinho e outras bebidas alcoólicas se conservem sem alteração. A adega inclui um lugar, onde se procede ao esmagamento da uva e à fermentação do mosto, sendo o restante espaço ocupado pelas vasilhas destinadas ao armazenamento e conservação dos vinhos.

Carro de bois com pipas
O vinho é acondicionado em pipas e transportado em carro de bois.

Taberna – Representação de uma taberna saloia dos anos 40.