Com o agravamento das alterações climáticas tem-se assistido a cada vez mais desafios na produção vinícola da região do Douro.
O vinho é dos produtos mais exportados no país, representando 2,4% do total de exportações nacionais e é parte integrante da cultura nacional.
No Douro, a vitivinicultura é o alicerce da sua história e o vinho produzido é um dos produtos portugueses mais apreciados. No entanto, os produtores durienses sofrem com as consequências das alterações climáticas.
Em maio de 2021, uma queda de granizo intensa provocou danos irreversíveis a várias vinhas de Vila Real, “Caíram pedregulhos que deram cabo de tudo. Estes eventos e fenómenos fazem parte das alterações climáticas.”, disse Lia Dinis, investigadora na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Temperaturas altas, tempestades abruptas e chuva intensa fora de época são outros dos fenómenos que têm dificultado a produção.
Se a qualidade do vinho está sujeita às interações entre o clima, o solo e as plantas e sendo o Douro reconhecido pelos vinhos que produz, as alterações nas características edafoclimáticas da região podem ter um impacto negativo na produção vinícola.
“Quando falamos em temperatura média anual, se os verões estão mais amenos, os invernos também estão muito mais amenos”, salientou Lia Dinis.
O mês de janeiro de 2022, foi, segundo o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, um dos mais quentes desde 2000 e estes invernos amenos desregulam o ciclo da videira.
As temperaturas altas fazem com que as etapas do seu ciclo aconteçam mais cedo e durante menos tempo e no Douro Superior, este problema tem-se vindo a agravar.
“No Douro superior, onde as condições são mais extremas, há mais falta de água e a temperatura é mais alta, a fase de abrolhamento tende a começar mais cedo”, explica Lia Dinis.
Ocorrendo o abrolhamento mais cedo, leva a que a floração seja precoce e ocorra em períodos de alta precipitação, levando a danos na flor que podem resultar numa menor produção.
A alta radiação solar também pode provocar a desidratação dos bagos, refletindo-se na redução do seu tamanho e no açúcar presente.
Estratégias para o futuro
De forma a colmatar as dificuldades sentidas pelos produtores durienses, uma das estratégias passa pela utilização de caulino ou silício nas folhas das videiras.
O caulino é uma argila que quando aplicado no lado das folhas mais exposto ao sol reduz o impacto das queimaduras solares e o silício “forma uma camada de sílica na parede celular e impede que a planta perca tanta água na transpiração pelo excesso de calor”, explica Lia Dinis.
A longo prazo a solução passa pela escolha de castas com tolerância a temperaturas e radiações mais altas, “Dos estudos que temos feito, a Tinto Cão, adapta-se bem”, revelou Lia Dinis.
A casta Tinto Cão já é cultivada no Douro desde o século XVIII e tem como característica um menor teor de clorofila, pigmento essencial na fotossíntese das plantas. Por ter menos quantidade, há uma menor probabilidade de sofrer foto-oxidação, que ocorre quando existe excesso de radiação solar.
Os produtores também devem optar por vinhas em altitudes mais altas, onde as temperaturas são mais baixas e orientar as vinhas para norte.
Se formos colocando a ciência em prática e adaptando, vamos minimizando os danos”, diz Lia Dinis. “Claro que a tendência não é propriamente melhorar. Aliás, está nas nossas mãos. Mas podemos amenizar o problema com estas pequenas estratégias.”
Fonte: National Geographic
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