Foi a explorar os mares que os navegadores portugueses, à procura de novas terras e rotas comerciais, encontraram o ‘fiel amigo’, o bacalhau, e o trouxeram para terras lusitanas.
Apesar de pescado nas longínquas águas da Terra Nova e Gronelândia, o bacalhau é um dos alimentos mais populares da mesa lusitana e a sua influência na identidade portuguesa é incontestável. Desempenha, por isso, um papel importante nos hábitos alimentares e na cultura portuguesa, desde o início desta relação secular.
Os primeiros registos históricos em Portugal relacionados com a pesca e salga do bacalhau remontam ao século XIV. No entanto, os pioneiros na sua pesca foram os vikings, que para o secar, deixavam-no exposto ao sol nos seus barcos.
O sal tornou-se numa ‘moeda de troca’ com os países nórdicos. Importava-se o bacalhau, e exportava-se o sal. Portugal tinha acesso a sal em abundância, algo que não se verificava nesses países.
Para que o peixe chegasse a Portugal sem se deteriorar, os portugueses secavam e salgavam o peixe, prática que é atualmente denominada de ‘cura tradicional portuguesa’, método que lhe confere características organoléticas únicas.
Na dinastia filipina, a pesca de bacalhau acabou por ser interrompida só tendo sido retomada no ano de 1835 pela Companhia de Pescarias Lisbonense.
Não foi visto como um alimento ‘nobre’ durante muitos séculos, sendo o seu consumo, comum nas classes sociais mais baixas. Só a partir do século XVII é que o seu consumo se generaliza e passa a fazer parte das mesas aristocratas.
A pesca de bacalhau no Estado Novo
A pesca de bacalhau era perigosa e difícil, os pescadores estavam expostos aos perigos do mar e, para além disso, contavam apenas com instrumentos e ferramentas rudimentares para seu auxílio. As viagens duravam cerca de seis meses e voltavam sempre menos homens, que aqueles que tinham partido.
Apesar da sua ‘romantização’ durante o regime salazarista, é em 1937 que decorre a greve dos bacalhoeiros, que exigiam melhores condições e incentivos. O Estado Novo implementou políticas que asseguravam o financiamento, o fornecimento de mão-de-obra e outras facilidades que fizeram crescer a frota envolvida nesta pesca e os lucros obtidos.
Motivado pelo aumento no consumo, nas décadas de 1950 e 1960 registou-se o maior pico de captura por parte da frota bacalhoeira portuguesa, mais 60% comparando ao ano de 1934.
Em 1958, Portugal torna-se no maior produtor de bacalhau salgado e seco e começa a afirmar-se no mercado internacional.
Bacalhau na gastronomia
É um dos alimentos mais identitários do país e se outrora era preferido devido ao seu baixo custo e facilidade de preservação, atualmente é mais apreciado pelo seu sabor e versatilidade gastronómica.
É um peixe magro, de fácil digestão, rico em proteínas e em minerais. Destaca-se também o seu o seu teor de ómega 3. A sua demolha reidrata os tecidos e retira o excesso de sal.
Apesar do mar português ser rico em pescado, como a sardinha, o carapau ou a cavala, o bacalhau surge como produtivo, de fácil conservação, rico em nutrientes e polivalente.
Inspiração de histórias, mitos e de mil e uma receitas, tornou-se parte do património gastronómico português, do qual não se pode falar, sem que este seja mencionado.
Imagem: CM Ílhavo
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